Torrada

Certa vez, Pedro estava limpando sua casa, como faz de costume todas as manhãs. Ao contrário das outras pessoas, ele sempre acordava disposto, e sempre fazia o que tinha que fazer pela manhã. Deixou fazendo suas torradas e foi lavar o banheiro. De repente, um barulho.

-PÁ!

Eram as torradas, que tinham ficado prontas. A torradeira era enguiçada, por isso, fazia um barulho estranho ao "avisar" que as torradas tinham ficado prontas. Levantou-se, então, de debaixo da pia, local em que lavava no momento, e foi ver suas torradas. Colocou um pouco de café no copo, e foi desligar a torradeira. No momento em que levou a mão até o aparelho, levou um susto:

-PÁ!

Quase caiu com esse susto. Se recompôs e foi desligar a torradeira.

-PÁ!

Dessa vez não levou susto. Ficou olhando para a torradeira. Decidido, foi desligá-la de novo.

-PÁ PÁ PÁ PÁ PÁ PÁ! Tira a mão de mim! - disse a torradeira.
-O que!?? Você fala?
-Lógico que eu falo, idiota! Me deixa em paz, eu to gostando das torradas ai dentro.

Pedro não acreditava na cena. Estava com um copo de café na mão, intocado, e conversando com uma torradeira que se recusava a entregar as suas torradas.

-Isso deve ser um sonho.
-Não é não. Eu sempre quis conversar contigo, te acho o maior gato.

Ele queria acordar a qualquer custo, então, numa ação impensada, jogou café fervendo na sua própria mão, para ver se acordava.

-AAAAAAAAAAAAAAH CARAAAAAAAAAALHO
-Puta que pariu, você é bonito, mas é burro feito uma porta.
-Vai tomar no cu sua torradeira do caralho! ME DÁ MEU PÃO!
-Tomar no cu não é ofensa, seu homofóbico. Adoro coisas dentro de mim, inclusive seu pão.

Num ataque de raiva, incomum para Pedro, este vai até o seu vizinho, bufando, e pede a sua marreta emprestada. Ele volta correndo para perto da torradeira, levanta a marreta e diz:

-VAMOS VER QUEM MANDA AQUI!
-Por favor Pedro, não faça isso! Lembra de todos os momentos que tivemos juntos!
-Que momentos!?
-Quando você me comprou por 50 reais nas casas Bahia, me trouxe para sua casa, ficou todo feliz quando me usou pela primeira vez, fez um café da manhã ótimo para sua mãe quando ela veio te visitar... Foram muitos momentos bons que passamos juntos, meu amor. Não acabe com tudo desse jeito.

Pedro repensou a atitude e abaixou a marreta. Olhou para a torradeira e disse:

-Me dá um motivo, que supera todos os outros, para eu não destruir você nesse momento.
-Você aumentaria as estatísticas.
-Que estatísticas?
-Um homossexual é morto a cada 28 horas no Brasil. Eu não mereço morrer por gostar de ter pães dentro de mim.
-Mas acontece que esse é o MEU pão!
-Pois então, seu pão já queimou, ta aqui a 20 minutos, já. Mas por favor, não desconte isso em mim, eu não tenho culpa.
-Só não vou te destruir porque você foi a melhor torradeira que já teve aqui em casa. Por favor dona Torradeira...
-Senhor Torradeira. - disse ele, interrompendo.
-Senhor Torradeira! Nunca mais faça isso. Eu já estou atrasado para ir trabalhar, graças a você.
-Tudo bem Pedrinho, pega essas torradas aí e joga no lixo, e faz mais.

Então, Pedro finalmente tirou as torradas, e elas estavam pretas. Resolveu dar uma cheirada, e mordeu um pedacinho. Sentiu um gosto fantástico. Era como se ele tivesse comido um manjar dos deuses. Resolveu, então, comer as duas torradas, inteiras. Senhor Torradeira o olhava atentamente.

Esse dia, Pedro descobriu o que realmente queria, para o resto de sua vida. A resposta era: comer torrada queimada. Pediu Senhor Torradeira em casamento, e assim, foram felizes para sempre, e com muita torrada preta.

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